segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

@2 No Talk

Da janela do avião eu via tudo. O dia estava amanhacendo, uma fraca luz laranjada no meio da escuridão. As luzes das casas, ruas, prédios e carros. Erguia-se no centro da cidade uma enorme e colorida torre. Um sorriso em meu rosto, e um sonho sendo realizado no mesmo instante. Enfim moraria no exterior por um ano todo.

Pessoas estranhas era tudo o que eu via na escola. Não que eu estava a procura desesperada, mas pessoas bonitas não eram faceis de serem encontradas no meio da multidão de alunos que estudavam na maior escola da Nova Zelândia . Dois mil e quinhentos alunos pra ser mais exato. Uma semana de aula ja foi o sulficiente pra encontrar uma amiga que minutos depois de te-la conhecido ja me contava de sua orientação sexual, lésbica. Na verdade ela se assumiu meio que sem querer, quando encontrou outra amiga e pediu: Cade minha namorada? Nisso ela me olhou assustada, e eu logo a tranquilizei: Não não tudo bem, somos dois ;)

Na hora do intervalo para o almoço, fui então me enturmar com o "pessoal" da minha amiga. Enfim, se tinha um hetero no meio, era muito. Me senti bem a vontade pra falar de tudo e já começar contando e ouvindo histórias. Lembro-me como se fosse hoje, eu sentado no corrimão da escadaria, quando um loiro , de olhos e pele clara, magro e alto... passou por nós. Meus olhos se fixaram naquela pessoa e parecia que tudo tinha parado naquele instante, a não ser sua caminhada até o próximo bloco. Foi então que ele me olhou, de longe, e eu com cara de bobo la estava parado olhando também. Ele continuou a caminhar mais um metro e então olhou para trás novamente. O coração disparou. Ele tinha reparado em mim.

Na mesma noite a imagem dele não saia da minha cabeça. E consequentemente a expectativa do amanhã. Que passou num piscar de olhos, logo lá estava eu na frente do "B Block" ainda antes da aula começar. E lá estava ele. O tal loiro que eu não sabia nada a respeito, ainda. Eu só queria ficar ali parado, olhando o dia inteiro se fosse possivel. Alguns dias se passaram, e eu contei da minha opçao sexual pra minha melhor amiga, não a lésbica, uma amiga da sala de matemática que mesmo que conhecendo a pouco tempo, já tinha ganhado muito minha simpatia.

-Tenho uma coisa pra te contar... mas não sei qual vai ser sua reação.
-Ai John, conta de uma vez sem enrolação. O que foi?
-Então, eu sou gay... gosto de meninos...
-Sério? Não se preocupe com isso, eu sou super cabeça aberta, gosto de você o mesmo, ou até mais... sempre quis ter um amigo gay.

E então ambos caimos no riso até o professor nos chamar atenção. Questão de segundos até continuarmos a convers. Eu tinha que saber o nome dele, mesmo sem muita esperança que ela saiba.

-Sabe, tem um menino loiro, alto, magro... bem lindo que fica sempre na frente do bloco B... cabelo estilo moicano... eu preciso saber pelo menos o nome dele..
-É um que tem uma mochila esquisita azul?
-Bem esse! Tu sabe o nome dele?
-Victor. Ele ta no ano 13 , mas ele rodou em quimica e eu estudo com ele.

Eu sorri. Então o nome dele é Victor. Até o final desse mesmo dia, já estava escrito "Victor" em várias paginas do meu caderno. O tão esperado intervalo finalmente chegou, e lá fui eu encontrar meus amigos atras do bloco B. Cada pouco eu olhava ao redor para ver se ele passava. E nesse intervalo ele não passou. Então, quem passaria na frente do bloco seria eu. Pedi se alguem me acompanharia, e fui com uma amiga. Tentando fingir uma naturalidade que na verdade não existia, eu o vi de longe, sentado como sempre na mesma mesa, no mesmo lugar. Caminhei em direção. Ele me viu. Me olhou. Não sei por que, mas nao consegui manter o olhar, e desviei. Quando olhei de novo, ele ja não estava olhando mais. Passei. Olhei mais uma vez para tras, e vi o que eu mais queria, ele olhando para tras também. Tive que me segurar, e muito pra não dar aquele grito acompanhado de um pulo de felicidade. Mais uma vez, ele olhou para mim.

Dias se passaram. E cada dia eu descobria uma coisa nova. Até o final do primeiro trimeste, eu já sabia que tinha um irmão que por sinal eu ja o tinha visto pela escola. Que sua familia tinha vindo da Africa Do Sul a três anos. Mas a pior descoberta, eu vi com meus proprios olhos.

Estava chovendo, e não tinhamos como ficar atras do bloco B como sempre, então, tivemos que ir para a frente, onde tinha coberto. Claro, que pra mim não foi nem um pouco dificil trocar de lugar, nada melhor que uma hora inteira vendo o Victor ali sentado. Sentamos numa mesa ao lado da dele. Mas pouco adiantava, ele estava de costas. Depois de alguns minutos uma guria morena chegou perto e sentou do lado dele. Cumprimentada por um beijo. Eu parei naquele momento, sentia alguma coisa estranha por dentro. Uma provavel mistura de ciumes com inveja, ódio e repressão. Mas eu continuei ali parado olhando até alguém me chamar. O intervalo chegou ao fim. E assim, o primeiro trimeste. Na escola que eu estudava, temos 3 meses de aula, e duas semanas de férias. Ou seja, passaria duas semanas sem ver ele. E o "até logo" não foi dos mais prazerosos. Enfim, fui pra casa com aquela imagem na cabeça, que durou pelas próximas duas semanas também. Ele tinha namorada.

Várias coisas passaram sobre minha cabeça nessas semanas. Entre elas, que eu não tinha todo o tempo do mundo pra falar com ele, coisa que eu ainda não tinha feito. Mas também não sabia se eu realmente queria, medo de me machucar. Talvez era melhor se continuasse assim, apenas observando. Mas isso estava me sufocando por dentro, todo esse mistério e toda essa obscuridade. Eu precisava falar com ele. Mas como? Sai de casa para dar uma volta no parque como sempre. Fumar um cigarro para relaxar. Eu e meu iPod, música no ultimo volume. Cabeça não parava de pensar em milhões de possibilidades. Foi então que sentado na grama olhando para o nada, eu escuto passos de aproximando. Virei e olhei, tinha um loiro correndo pela trilha de concreto que fazia um circulo ao redor do parque. Ele foi se aproximando de onde eu estava sentado, foi então que a respiração travou. Era ele. Conforme ele veio se aproximando, tenho certeza que me viu. Eu não sabia o que fazer. Seria um sinal pra finalmente eu falar com ele? Mas eu mal conseguia me mexer, muito menos falar alguma coisa. Ele passou e foi se afastando. Eu o acompanhei com o olhar até ele fazer a curva e voltar pelo outro lado. Lá de baixo eu vi ele olhar em minha direção, mas foi quando ele voltava, que realmente tive a certeza que ele me viu. Ele me olhava, correndo. Eu o observava de longe, sentado. E assim foi por alguns longos segundos. Nem ele e muito menos eu mexemos a boca para falar um simples "Hi". Ele se foi. Voltei a respirar.

As aulas finalmente voltaram. E lá estava ele, no seu autêntico bloco B. Já fazia um pouco de frio, mais uma desculpa para eu desfilar na frente do bloco B a cada quinze minutos para ir até a caferetia da escola buscar um café. Nunca tomei tanto café na minha vida quanto nesse inverno. Mas era por uma boa causa. Foi em um intervalo que tomei a primeira decisão, ele vai saber pelo menos que eu sei quem é ele. Sentado atras do bloco B, ele passou como sempre, me olhou e continou a caminhar. Uma amiga então gritou "Victor!" Ele parou e virou, não muito perto, mas parou. Junto mais uma vez parou minha respiração, e lá estava a cena épica. Ele foi chamado pelo nome, virou esperando uma resposta. E eu, a pessoa que poderia lhe dar a resposta, também parado. Certamente ele percebeu que minha amiga teria gritado sem qualquer intenção dela de falar com ele, e muito menos minha. Ele deu um leve sorriso de "ah, entendi" , virou-se e continuou a caminhar.

Era já inverno, fazia muito frio, mas não me impedia de ir ao parque como sempre. Depois daquele dia , todos os dias que eu ia ao parque tinha uma segunda intenção, a de reve-lo. Fui inumeras vezes lá, mas não o via fazia uns dois meses já. Sentado sobre uma mesa de madeira vendo o sol se por, a luz fraca a pálida como a unica fonte de calor, foi então que vi o que tanto queria. La vinha ele, dessa vez não estava correndo como da ultima vez, mas apenas passeando com um grande cachorro branco. Ele me olhou, e desviou o olhar tão rapidamente que fiquei sem graça. E foi só isso. Deu a volta pela pista com seu cachorro, correu umpouco pra lá e pra cá brincando, até rolou-se um pouco na grama enquanto seu cachorro pisava sobre ele. Risadas. Latidos. E eu ali, parado observando rindo da cena. Mas ao mesmo tempo que, por dentro, estava desapontado com apenas o pequeno o olhar de "ah, você". Logo mais estaria ele indo embora com seu cachorro e eu ainda estaria ali sentado o observando. Foi quando decidi que dessa vez não seria tão previsivel, fui eu quem sai de lá primeiro, sem olhar para tras, e tomei meu rumo para casa. Segundos antes de virar a direita para pegar a rua de casa, ouvi o ronco de um carro passando por mim, olhei, e lá estava você voltando para casa também. Por um momento até estranhei o fato de ter saido tão rapido, afinal, parecia bem entretido. Seria pra chamar minha atenção? Sim. Ou não. Não sabia e temia nunca saber.

Depois desse dia decidi pequenas coisas antes de dormir. Chega de passar varias vezes pelo bloco B. Chega de gritar seu nome ou encará-lo o tempo todo, afinal, já deve estar mais do que na cara que eu sentia alguma coisa. E no ultimo dia de aula antes das férias de inverno, tive o empurrão final para passar essa fase. Passando pelo bloco B em um uma simples troca de aula, ao me aproximar vi Victor e uns amigos por la conversando, e um de seus amigos ao me ver gritou "Victor!" e caiu na gargalhada. Olhei com uma cara de cinismo e seu amigo e também sua namorada riam descontroladamente. Porém Victor apenas disfarçava um sorrisinho meia boca. Seria o fim para essa hist;oria que comecei a considerar patética e humilhante. Enfim férias.

Essas férias eu viajaria com minha amiga do Brasil por todo o pais e me atrasaria em 3 dias no retorno das aulas. Confesso que durante a viajem me peguei varias vezes pensando em Victor e tudo isso. Mas assim que percebia, me chingava e mudava de pensamento, ou pelo menos tentava. A viajem acabou. Já estava três dias atrasado pra o retorno das aulas. Terceiro Primeiro dia de aula. E por incrivel que pareça, a primeira coisa que fiz ao chegar no colégio, não foi espiar se ele estava no Bloco B, mas sim mostrar a escola a minha amiga brasileira que estudaria ali comigo no meu ultimo trimestre. Sim, mais tres meses e eu voltaria ao Brasil. Já não era tempo de lutar por mais nada ou tentar. Apenas deixar as coisas como estão. Embora minha amiga lésbica insistia que Victor parecia desesperado quando voltou de férias e supostamente não me viu pela escola. Diz ela que ele passava de minuto a minutos por meus amigos olhando e "me procurando".

- Será que um dia ele vai saber de tuda essa história Paree?
-A não ser que você quer que eu conte quando você for embora, mas acho que vai soar estranho...
- Sabe, acho que na verdade toda essa história é estranha... me sinto tolo, mas ao mesmo tempo sei que não é tolice, sinto... bem, não sei o que sinto...
-Deixa assim John, deixa como está...

Depois dessa conversa na ultima aula de matematica, fui para casa. Onibus, como sempre. Mas dessa vez eu estava quieto, fitando a janela e tudo que por ela transparecia. Foi então que chegando perto de casa, eu vi seu carro estacionado na frente de uma casa. Mais que isso, ele estava parado em frente a porta com as chaves na mão, abrindo-a. Ele morava duas ruas acima de onde eu morava. Eu queria morrer. "Esse filho da puta poderia morar em qualquer rua em qualquer bairro dessa cidade de Auckland, e ele vem morar duas ruas acima da minha casa?!" Toda essa história tava passando por coincidencia demais para meu gosto. Foi então que pensamentos de tentar falar com ele voltaram a minha cabeça. E foi nessa noite que eu tive o primeiro sonho com ele. O sonho? Sim, foi o melhor sonho que eu poderia ter. Acordei querendo não acordar, e jurava sentir o gosto de sua boca ainda na minha. Mas foi só um sonho...

Então Paree nas proximas semanas vem me contar que começou a conversar com ele na aula. E para maior desgraça, ele já namora a mais de um ano com aquela garota que eu jurava ser a errada da vida dele. "Deve ser boa de cama" era tudo o que eu conseguia pensar para eles estarem juntos a tanto tempo , ela sendo tão... sem graça. Mas, certas coisas apenas admitem-se, e gosto é uma delas.

Festa final de semana. Em um Surf Club. Longe, bem longe de West Auckalnd, mas nada que um carro não resolveu nosso problema. Eu, minha amiga brasileira, duas italianas, e uma neo-zelandesa. Chegamos ao surf club e logo na estrada me deparei com um dos amigos do Victor cuidando da portaria, bebado. Sim, era o mesmo que tinha gritado aquele dia na escola. Queria me esconder. Estava com um pouco de medo que ele, bebado, me visse e então comentasse alguma coisa embarassosa. Mas eu já estava lá, teria que entrar. Me aproximei, ele olhou pra mim e surpreendemente disse:

- Oi John! Não imaginava que nosso amigo brasileiro daria as honras por aqui! Espero que se divirta com nós kiwis. Josh! - Ele gritou para um menino também já conhecido de vista - Faz um cocktail esperto para nosso brasileiro.

Eu fiquei ali, minha cabeça estava sem pensar em nada , e meu corpo apenas seguia o fluxo até aonde o Josh estava, me esperando com um drink na mão. Me cumprimentou com um abraço e me entregou o drink. Agradeci, e caminhei para um canto da festa para processar toda essa informação. Olhei ao redor para ver se tinha algum conhecido, e sim, tinha. Victor. Com uma toca escura escondendo seu cabelo loiro, o que apenas realçava uns lindos olhos azuis claros que brilhavam quando as luzes o iluminavam. Entrei na pista de dança logo atras dele, e então posso eu dizer que tivemos o primeiro "contato". Não sabia para aonde meus pés estavam indo ou se eu realmente estava dançando ou parado, e muito menos que musica tocava. O importante era que eu podia senti-lo logo atras de mim dançando, enquanto sua jaqueta preta e a minha se encostavam conforme a dança. Foi a primeira vez desde o começo do ano em que eu cheguei realmente perto dele. E ele por ali ficou por longos minutos , até sua amiga o chamar. De repente a minh amiga brasileira chega pra mim e diz

- John tu viu o Victor?
- Vi sim...
- Mas tu sabe por que ele foi embora tão cedo?
- Ele já foi? Mas eu tava com ele perto de mim até agora
-Parece que a amiga dele tá passando mal e ele foi leva-la pra casa.

Droga. Era tudo que eu NAO precisava nesse momento. Seria tão mais sociavel ambos com alcool no sangue finalmente termos nossa primeira conversa. Ódio. Mas eu resolvi esperar ele voltar, enquanto isso fui bebendo para criar coragem. Uma hora passou. Duas. Tres, e ele não voltou.
Fomos para casa. Dias depois a Paree me contou que ele disse que a namorada dele que não tinha ido a festa havia descoberto e encrencado, motivo pelo qual ele não voltou. Agora sim eu queria que aquela vaca morresse.

Depois de um filme pela madrugada, Closer, uma poesia sem término saiu.

Era apenas começo das aulas

Ultimas semanas do verão

E quando caminhava aos arredores

Da escola cheia porem desconhecida

Uma visão para meu caminho

E segura-me inerte por infinitos segundos

Meu coração batia mais forte

Meus olhos correndo todo o seu corpo...

Já nos vimos antes?

A impressão da antiga familiaridade

Da relação de anos e anos

Mas na verdade não

Você não passava de um estranho

Ou talvez pra você

Quem não passava de um estranho era eu.

Semanas se passam e reparo que você por alguma razão tambem reparava em mim

Olhares era a palavra exata

Numa troca de olhares que diziam tudo,

Mas ao mesmo tempo nada

Meses passam voando,

Você, namorando

Por alguma razão era como se você fosse muito para ela

Que essa nao era a pessoa certa para ti...

Mas quem era eu pra julgar quem te merece ou não

Se nunca nos falamos...

E muitos menos como julgaria sua namorada se nunca tinha a visto antes:

Conformação...

percebi que eu realmente se importava com você

Estava sempre anscioso para te ver no próximo dia

Mesmo com a namorada

Só queria te ver e ter certeza que você estava bem.

E para mim era o sulficiente.

Então a noticia que teria de partir

Faz com que meus sentimentos sobre você se revelem

E tudo o que eu sentia

E tudo no que eu pensava

Era uma maneira de falar com você

Uma maneira de tocar em você nem que fosse como amigo

Apenas sentir-te

Mas como:

Noites sem dormir

Fins de semana interminaveis

Longas cartas pra ninguém...

Na festa em que te encontrei

Cedo voce teve que deixar

E as esperancas de la com voce conversar

Somem no momento em que vejo voce partir.

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Ultimo dia de aula para mim, na proxima semana eu estaria partindo sem data programada para voltar. Aula de bilogia, bloco de ciencias. Eu sabia que ele estudava na sala em cima da minha quimica ao mesmo tempo. Motivo pelo qual que desde que soube disso pela Paree, eu saia correndo da aula pra ver ele sair e caminhar até sua proxima aula, ciência da computação. Sim, eu esqueci de comentar que eu sabia até a sequencia das aulas dele. O que é meio assustador. Enfim. Nesse dia em especial como era o ultimo pra mim, fiquei um tempo mais conversando com a professora. Sabia eu que talvez nunca mais o visse, mas eu queria me despedir propriamente da minha professora. Quando sai da aula, o bloco ja estava vazio. Quase na saida, em frente as escadas de onde eu sempre via ele descer, minha amiga mandou eu esperar que ela esqueceu o livro na sala. Eu esperei. E inesperadamente no meio do vazio eu ouço passos cindo do segundo andar. Olhei para a escadaria e la descia ele, sozinho. Estava eu e ele no meio daquele Hall enorme. Ele me olhou novamente e desceu as escadas, tão devagar que parecia que estava dando tempo pra eu tomar coragem de falar com ele. E ele descia tão devagar... passo a passo. E passo a passo eu o acompanhei, mas meus musculos não conseguiram se mecher. Ele passou por mim, me olhou, e continou. Saiu do bloco de ciencias, e subiu a rua. Atravez da enorme fachada de vidro do bloco, ele olhou para tras e parou. Eu retibui o olhar. Nao contive o riso. E ele o retribuiu e continou a subir. Estava eu ciente que era a ultima vez que o veria, mas ele creio que não sabia.

Me odiei o resto das aulas por nao ter dito "Hi". Ao mesmo tempo que tentava me convencer que foi o melhor ,afinal, se no ultimo dia eu criasse um laço com ele de amizade pelo menos, eu não iria mais querer ir embora. Lembrei de minha amiga dizendo: "Just let it go". E eu deixei.
Mas ainda o vi mais uma vez. Definitivamente e até hoje a ultima vez. Sentado no meu onibus, esperando todo mundo embarcar para ir embora, eu o vi na multidão de pessoas tomando seu rumo. Sem ele ver eu acenei um "Goodbye" e no mesmo instante ele olhou para o onibus, e finalmente para mim. Ele parou. Eu estava enrolado a uma bandeira da Nova Zelandia, com uma cara toda lavada de lagrimas, olhso vermelhos de tanto chorar nas despedidas. Provavelmente ele se tocou que eu estava indo embora. Me olhou. Eu dessa vez não ousei desviar o olhar por um segundo se quer. Lagrimas escorreram silenciosamente por meus rosto. Ele, estava com uma expressão indescritivel em sua face, uma espécia de tristeza com surpreso. E o onibus partiu. E nosso olhar se manteve até eu perde-lo de vista. Lágrimas. Saber o que realmente foi tudo isso, creio que nunca sabarei. O que se passava na cabeça dele, se era algo tão sério quanto em mim, ou nada de mais... se foi certo nunca ter dito uma palavra ou não... ainda hoje paro e lembro de tudo, vejo suas fotos que tirei escondido em meu computador. Uma certa forma de saudade. Maybe someday I will see you again.

domingo, 20 de janeiro de 2008

#1 Only The First


Tudo foi tão rápido... nunca tinhamos tido uma conversa tão "honesta" antes. As palavras e termos não foram necessariamente os exatos, mas ambos entendiamos do que estavamos falando. Não sei se foi a bebida que nos possibilitou essa conversa, ou simplismente a grande necessidade de ambos de finalmente falar sobre esse assunto, que até então era cheio de mistérios.
Mas foi entre um trago e outro que tudo aconteceu. Voltei e você estava ali sentado, com uma amiga. Entre as conversas, mantinhamos a nossa paralelamente sem chamar muita atenção.

- Você não me ligou hoje
- É , eu sei
- Como se eu ainda esperasse que me ligaria, afinal, desde que esta aqui me ligou 2 vezes se for muito.
- Liguei mais
- Não. Por que você faz isso?
- Isso o que?
- Você some assim.
- Eu nunca sumi...
- Ah não? - e um breve silêncio - Você some. Dai volta. E então some de novo. E volta. Some. Volta...
- Tem coisas que não tem nexo. Que depois de um tempo vivido, de alguns relacionamentos... bom, eu sai de um namoro de um ano e meio, e um casamento de um ano e meio também... talvez hoje você não entenda.
- Então o problema é comigo? é por que eu moro em Balneário e você em São Paulo? é por que eu tenho 17 e hoje você 24? É por...
- É , é também... mas embora você tenha 17 eu sei que você é muito mais vivido do que aparenta... mas sim,não tem como dar certo, não tem por o que se iludir, ou por o que lutar por.

E foi então que houve uma interrupção. E o restante da conversa teria que ficar para depois. Um trago. Um gole na cerveja quente. Um sorriso falso pra enganar enquanto Nenhum De Nós tocava no bar.

Eu vi você pela primeira vez na televisão. Há dois anos. Saber que você coincidentemente tem os pais na mesma e cidade pacata do oeste que eu, me deixou surpreso. Mas surpreso e feliz, foi logo descobrir que tinhamos amigos em comum, e que em breve você estaria por "aqui". Contando os dias , horas e minutos para você chegar, eu ficava deitado na cama imaginando o homem mais lindo que eu ja tinha visto que supostamente estaria ao meu alcance .
E assim você chegou. Lembro-me como se fosse ontem do telefonema de meu amigo: " Estamos passando ai de carro! Ele está aqui comigo!" . Foi dificil impedir que meu coração pulasse pela boca ao mesmo tempo que mantendo o corpo oxigenado. E você chegou. E fomos apresentados. Logo de cara muitas risadas e muita conversa. Sonhei com você.

Passei a nos ver todos os dias. Ele estava a organizar uma festa na cidade e eu, mais que lijeiramente, me inclui na organização. Selecionaria as músicas e ajudaria na decoração. Todos os fins de tardes eram iguais, porém, diferentes. Na casa da amiga que seria a festa. Sim, seria em todo o andar inferior da mansão. Logo, descobri o que até então foi o primeiro desapontamento. Ele estava combinando de encontrar um outro rapaz na festa. Ao mesmo tempo que parecia se importar comigo, comecei a lutar para interpretar sua enorme simpátia apenas sendo então amizade. Pelo menos teria um amigo. Um dia antes da festa passamos a tarde juntos no meu computador gravando cds. Foi umatarde maravilhosa. Tudo parecia tão bem que até me esqueci de seu "casinho". Mas não foi por muito tempo, pelo menos não até eu deitar minha cabeça sobre o travesseiro.

O dia da festa chegou e passamos a tarde toda arrumando o local. Mas dessa vez seu celular contantemente mandando e recebendo mensagens não me deixou esquecer que eu não seria o único o desejando naquela noite. Me conformei. Realmente me conformei mesmo. O longo banho antes da festa foi como uma terapia para encarar tudo que aocntecesse na festa de forma positiva e seguir em frente. O carro businou na rente de casa, e então fomos todos juntos a festa. Chegando lá organizei o som, as luzes, as velas... Bem vindo a primeira festa gay da cidade.

De qualquer forma eu estava animado. As pessoas pareciam que estavam curtindo a música. Volta e meia que descia na pista dançar um pouco enquanto meu amigo tomava conta do som pra mim. Foi então que vi a cena que me fez parar por um momento. Ele estava abraçado a um rapaz. " O tal" foi o que automaticamente pensei. E então voltei. Em outra de minhas inumeras decidas até a pista, fiquei brevemente com um outro rapaz que também era muito bonito, mas não consegui mais que 5 minutos. Voltei ao som. Sai. Voltei. Dancei. Bebi. Fumei. Sai... então percebi que não havia ninguém cuidando do som. Voltei rapidinho e me deparei com ele e uma amiga sentados em uma cadeira mas cuidando do som. Ele me viu e levantou. Eu fingi uma incrivel naturalidade e indiferença a respeito. E dancei e estampei na cara um leve sorriso. E lá estava eu e ele dançando juntos no stage. Foi quando muito rapidamente sua mão encontrou a minha no meio da dança, e então me puxou para mais perto. Tão perto. O primeiro beijo. Lembro-me de skazi estar tocando no momento, e de nossos pés que ainda tentavam manter um passo ritmado da música enquanto nossas bocas estavam grudadas e nossos braços entrelaçados. Mas não foi muito tempo é desistirmos disso e nos entregarmos completamente ao beijo.

Foi no corredor escuro e vazio, logo atrás, que você me encostou na parede e segurou meus braços erguidos enquanto sua boca percorria meu pescoço. Minha boca. Meu pescoço. Minhas orelhas. Arrepio. Sorriso. Beijo. Andamos mais um pouco e havia um quarto totalmente vazio, com apenas um colchão de casal não muito confortável. Você me derrubou ali, e logo então eu te puxei. Rolamos pra lá e pra cá. Nossas coisas cairam dos bolsos e espalharam-se pelo colchão. Nessa altura, ninguém mais cuidava do som, e ouvia-se as longas pausas entre uma música e outra e, claro, gritos de indignação do público. Mas não interessava. Nem um pouco. Pelo menos não a mim.

Depois de muitos beijos e abraços, apertos e escorregões, a festa tinha acabado. Descemos ao lounge da festa, bem na entrada, aonde tinha um enorme puff branco. Ainda a música tocava e agora só nossos amigos bebados dançando. Deitamos, abraçados, e dormimos. Meus braços sobre o seu corpo. Nossas pernas quase fazendo um nó. E só então me recordo de risadas, abrir os olhos, e ver meu amigo com um extintor na mão nos acordando.
Fumaça pra todo o lado. Rimos. Foi só ao tempo de me levantar e ascendermos as luzes da casa que meu pai apareceu la dentro. Com uma cara de bravo que já seria outra história. Quase sete horas da manhã. Ainda tive coragem de pedir para meu pai leva-lo até em casa. Mas eu não estava nem ai pra qualquer cisa que me pai falasse e me chingasse, minha cabeça ainda estava nos momentos mágicos que tinham recém acabados.