quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Eles.

Há uma pessoa sentada na beira da calçada
a sua frente uma rua deserta apenas com grãos de areia e pedras
algumas poças d'água acumuladas com a forte chuva da madrugada
o dia está apenas começando e os primeiros ônibus a circular a cidade
não se ouve uma alma viva andando por ai
nenhuma conversa, nem passos, muito menos risadas
apenas o som do ar entrando e saindo de seus pulmões carregados de fumaça
ou então pequenos e baixos estalinhos causados pela brasa do cigarro queimando o fino papel
a garota então retira da mochila a suas costas uma pequena agenda
e abre no dia 8 de Outubro.
Fecha rapidamente assim que avistou o número 8.
E assim ousou abri-la e fexa-la mais algumas vezes em questão de alguns segundos.
Até seu coração implorar por compaixão e ela jogar sua agenda alguns metros, numa pequena poça a frente.
Enquanto suas páginas iam enfraquecendo com a água, outro cigarro era asceso.
A respiração estava pesada e seus olhos pareciam brilhar como duas pérolas na fria manhã de 8 de outubro de 1984.
Tragadas atrás de tragadas sem pausa para uma brexa de ar puro.
Sua perna direita incostantemente fazia movimentos repetidos
Seu sapato então a encontrar levemente o chão
Quebrando o silêncio da rua.
Seus cachos loiros estavam mais belos que nunca
Mas ela nunca se sentira tão rejeitada.
Minutos se passaram.
A rua já apresentava alguns singelos sinais de compania para a garota ainda sentada
Ainda fumando
Ainda chorando
Ainda esperando...
Esperando que seu amor volte ao lugar aonde tudo começou
Dois já se passaram
Dois 8 de outubro já clarearam
Duas frias e canssativas manhãs
Para ela que acredita que um dia, seja aonde for que ele esteja
Ele terá a mesma ideia e volte para a reencontrar.
Mal sabe ela que seu grande amor não mais retornará em um dia 8 de outubro.
Mal imagina ela que ele nunca mais retornará em nenhum dos dias.
Louco. Pirado. Doente.
Era o que seus médicos diziam no hospício.
Enquanto ele desenhava e re-desenhava uma linda garota loira com giz de cera
Então sorria
Mas logo que seus pais viam o retrato
Eles a apagavam
E ele era castigado
Olhava pela janela vendo a fria luz azul do único poste da rua
E então chorava. Dias, noites, semanas...
Até a algumas horas atrás ter uma conversa intima com uma corda
Tentou chegar ao chão, mas no ar suspendeu-se.
As últimas palavras: não há mais vida por que minha vida era você.
Ela fumava.
Ela esperava.
Ela chorava.
Ele gritava.
Ele agonizava.
Ele esperava.
"Ela" na verdade era um "ele".
E a loucura na verdade era amor.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A insanidade doida da loucura

Uma fresta de sol banha pedaços da mesa com pratos abandonados com um resto de comida
abandonados pelo cigarro e o assunto que não para de fluir.
Um cigarro atrás do outro, uma palavra parecendo querer atropelar a outra de tanta pressa.
Aceito alguns comprimidos "para acordar" depois de uma canssativa noite que parecia inacabável.
O tempo é curto, o assunto é direto.
Uma louca me diz no auge de seus 27 anos que somente então descobrirá o que é amar
que só então estava desfrutando da tal felicidade interior.
Eu a observo falar ao mesmo tempo que observo as pessoas ao redor
tentando indentificar a loucura de cada pessoa.
Algumas talvez o ato de fumar já é uma maneira de expressar sua loucura e rebeldia
outras se expressam pelo corte/cor de cabelo
ou então mesmo pelas roupas que as vestem.
E claro, a classe mais louca de todas, os ditos normais.
que são tão loucos que acreditam que são a maioria, corretos, e acima de tudo, juram realmente que são normais.
Mas na verdade todo mundo tem sua loucura.
A diferença é que alguns demonstram sua loucura em público, diariamente, constantemente.
Outros apenas assumem sua loucura quando estão sobre o efeito de álcool ou alucinógenos
Ou simplismente quando estão sozinhos em casa na frente de um espelho ou debaixo do chuveiro.
No fim, somos todos loucos tentando superar o colega que é mais louco ainda.
Louca é aquela que me diz que teve 27 anos na vida para ser feliz e só então esta sendo.
Louco sou eu, que só preciso de alguns minutos de total solidão e esquecimento ao som de Sandy & Júnior Acústico MTV, para o irreal se juntar ao real e tudo se perder numa história só.
Uma cerveja. Cigarros. Pensamentos incessáveis. Certo. Errado. A insanidade doida da loucura.