Há uma pessoa sentada na beira da calçada
a sua frente uma rua deserta apenas com grãos de areia e pedras
algumas poças d'água acumuladas com a forte chuva da madrugada
o dia está apenas começando e os primeiros ônibus a circular a cidade
não se ouve uma alma viva andando por ai
nenhuma conversa, nem passos, muito menos risadas
apenas o som do ar entrando e saindo de seus pulmões carregados de fumaça
ou então pequenos e baixos estalinhos causados pela brasa do cigarro queimando o fino papel
a garota então retira da mochila a suas costas uma pequena agenda
e abre no dia 8 de Outubro.
Fecha rapidamente assim que avistou o número 8.
E assim ousou abri-la e fexa-la mais algumas vezes em questão de alguns segundos.
Até seu coração implorar por compaixão e ela jogar sua agenda alguns metros, numa pequena poça a frente.
Enquanto suas páginas iam enfraquecendo com a água, outro cigarro era asceso.
A respiração estava pesada e seus olhos pareciam brilhar como duas pérolas na fria manhã de 8 de outubro de 1984.
Tragadas atrás de tragadas sem pausa para uma brexa de ar puro.
Sua perna direita incostantemente fazia movimentos repetidos
Seu sapato então a encontrar levemente o chão
Quebrando o silêncio da rua.
Seus cachos loiros estavam mais belos que nunca
Mas ela nunca se sentira tão rejeitada.
Minutos se passaram.
A rua já apresentava alguns singelos sinais de compania para a garota ainda sentada
Ainda fumando
Ainda chorando
Ainda esperando...
Esperando que seu amor volte ao lugar aonde tudo começou
Dois já se passaram
Dois 8 de outubro já clarearam
Duas frias e canssativas manhãs
Para ela que acredita que um dia, seja aonde for que ele esteja
Ele terá a mesma ideia e volte para a reencontrar.
Mal sabe ela que seu grande amor não mais retornará em um dia 8 de outubro.
Mal imagina ela que ele nunca mais retornará em nenhum dos dias.
Louco. Pirado. Doente.
Era o que seus médicos diziam no hospício.
Enquanto ele desenhava e re-desenhava uma linda garota loira com giz de cera
Então sorria
Mas logo que seus pais viam o retrato
Eles a apagavam
E ele era castigado
Olhava pela janela vendo a fria luz azul do único poste da rua
E então chorava. Dias, noites, semanas...
Até a algumas horas atrás ter uma conversa intima com uma corda
Tentou chegar ao chão, mas no ar suspendeu-se.
As últimas palavras: não há mais vida por que minha vida era você.
Ela fumava.
Ela esperava.
Ela chorava.
Ele gritava.
Ele agonizava.
Ele esperava.
"Ela" na verdade era um "ele".
E a loucura na verdade era amor.
SOBRE POLÍTICA.
Há 6 anos